terça-feira, 3 de maio de 2011

Presidente da Sociedade Médica de Sergipe fala sobre a saúde no Estado numa entrevista exclusiva para a Conexão Nordeste. Confira!

Dr Petrônio Andrade Gomes - Presidente da Somese

Por Marcia Cruz

A Revista Conexão Nordeste foi conferir como anda a saúde no Estado de Sergipe. Para isto, conversou com Dr Petrônio Andrade Gomes, presidente da Sociedade Médica de Sergipe – Somese. 

O resultado você confere a seguir.

Conexão Nordeste – Como está a negociação dos médicos sergipanos com os planos de saúde? Houve algum avanço?

Dr Petrônio Andrade Gomes – Continuamos em negociação. Da parte dos médicos, sentimos que há uma maior mobilização dos profissionais, que estão mais empenhados em acompanhar e participar da negociação. Em relação aos planos de saúde, somente tivemos avanço junto a Petrobras, que por conta própria aumentou a consulta para R$ 80,00. Os demais planos continuam em torno de R$ 40,00. E é importante dizer que nós temos uma tabela nacional de atendimento médico chamada “Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos”, atualizada anualmente. O que acontece é que os planos de saúde aumentam os valores dos planos para seus associados, mas para os médicos não fazem reajuste, pois ainda continuam usando a tabela de 2004, que está totalmente defasada.

Conexão Nordeste  – E qual o direcionamento que a Somese está dando aos profissionais em relação a este assunto, já que de fato os planos de saúde estão utilizando uma tabela de 2004, o que significa uma defasagem de praticamente sete anos?

Dr Petrônio – Nossa sugestão é pelo descredenciamento dos planos que não fizerem os reajustes devidos. Nosso Estado tem bons profissionais, o que está faltando é respeito pela área médica.

Conexão Nordeste – Se há desrespeito por conta dos planos de saúde, como anda então a relação dos médicos com o Estado e a Prefeitura? Houve avanços em relação ao SUS?

Dr Petrônio – Aí é que a situação piora! Há deficiência em tudo. Tanto em relação ao profissional, que não tem boas condições de trabalho, quanto aos pacientes, que sofrem com acesso a consultas, exames e, principalmente, cirurgias e internamentos.

Conexão Nordeste – E quanto ao valor da consulta do SUS?

Dr Petrônio – É uma piada! Se estamos falando de uma negociação com os planos de saúde que estão com a consulta em torno de R$ 40,00, no SUS este valor é de R$ 10,00. E, para piorar, mudaram a forma de pagamento dos médicos que prestavam serviço ao SUS. Antes o SUS pagava direto ao médico e era um pagamento certo, agora é o hospital quem recebe e repassa para o médico.

Conexão Nordeste – Os hospitais passaram a funcionar como intermediários entre o SUS e os médicos, então?

Dr Petrônio – Sim e só piorou bastante a situação, pois descontam imposto e ainda atrasam o pagamento. Os médicos estão tendo que criar empresas para poder receber o valor do seu trabalho com menos encargos e sem atraso. O que é um absurdo, pois recebendo direto, como era antes, era muito mais prático e menos dispendioso.

Conexão Nordeste – A saída então será o atendimento particular?

Dr Petrônio – Está acontecendo sim uma fuga dos médicos para o atendimento particular, porque os valores estão muito aquém do mercado e das correções de valores, afinal estamos falando de sete anos de atraso na correção da nossa tabela. Os médicos que trabalham na área particular atendem menos, mas com melhor qualidade em todos os sentidos, tanto em termos de valores quanto ao atendimento em si, pois atendem menos pessoas, podem dar uma atenção melhor e mais devida e, consequentemente, também acabam tendo uma qualidade de vida melhor, menos estressante e com mais saúde, sem sombra de dúvida.

Conexão Nordeste – Mas e quanto a área pública, qual é a solução, já que a população mais carente não pode ficar sem atendimento médico?

Dr Petrônio – Nossa luta é para a aprovação do Plano de Cargos e Carreiras do Médico aqui no Estado, a exemplo do que já acontece com os advogados. E, sem querer desmerecer a profissão de ninguém, acredito que a área médica é mais útil para a comunidade, pois lidamos com a vida das pessoas. Deveriam resolver, com maior prioridade, a questão dos profissionais de saúde.

Os médicos precisam ser tratados com dignidade
Conexão Nordeste – Como funcionaria este Plano de Cargos e Carreiras do Médico?

Dr Petrônio – Seria estabelecido um piso, e o valor que está sendo discutido a nível nacional é de R$ 15 mil, para o médico que atue na área pública, seja na esfera municipal, estadual ou federal. O médico teria que ser concursado e quem já estiver trabalhando e for concursado, seria beneficiado com o plano. Porque há médicos que gostam de atuar na área pública, mas precisam ser tratados com dignidade.

Conexão Nordeste – Então existe uma discussão em relação a isto a nível nacional?

Dr Petrônio – Sim. Tem um Projeto de Lei da autoria dos Deputados e médicos Dr Ronaldo Caiado (GO) e Dr Eleuses Paiva (SP) que está na Câmara dos Deputados para aprovação. É este Projeto quem estabelece o piso nacional de R$ 15 mil, com carga horária de 20 horas, semanal e o fato do médico ser concursado para atuar na esfera pública, seja municipal, estadual ou federal. O relator do Projeto é o deputado sergipano Mendonça Prado.

Conexão Nordeste – Na época da campanha o governador Marcelo Deda foi bastante criticado em relação a área de saúde. Houve algum avanço nestes primeiros meses do segundo mandato do governador em relação a saúde do Estado?

Dr Petrônio – Ainda não. A saúde continua desassistida, principalmente no interior, o que acaba por sobrecarregar Aracaju, que também já é deficiente. Outro ponto negativo é a Fundação Hospitalar que, na prática, não trouxe ainda nenhum benefício.

Conexão Nordeste – E quanto aos cursos de Medicina no Estado de Sergipe, como está a qualidade dos mesmos?

Dr Petrônio – Hoje temos dois cursos de Medicina aqui no Estado, o da Universidade Federal de Sergipe, que inclusive completa 50 anos este ano, e o da Universidade Tiradentes, que está em funcionamento desde 2010. São dois métodos diferentes; o da UFSe é mais tradicional e temos sim algumas restrições, principalmente em relação a carência de Residência Médica, essencial para melhor qualificação dos nossos profissionais. E o da Unit ainda é muito novo, ainda iremos avaliar.

Conexão Nordeste – Como funciona essa questão da Residência Médica?

Dr Petrônio – Quando o médico se forma ele está apto a exercer uma função de Clínico Geral. Para ter uma especialização ele precisa fazer uma Residência Médica na área que vai se especializar. A Residência é na verdade um curso complementar e prático na área que o profissional escolhe seguir. Como o mercado exige, cada vez mais, profissionais com especialidade, nossos médicos são obrigados a viajarem para outros Estados para obterem essas especializações, o que não é admissível, pois temos muitos profissionais, e profissionais muito competentes. Mais uma vez, o que falta é priorizar e tratar com dignidade a área de saúde.

Para saber mais sobre a área de saúde em Sergipe e a Somese, acesse o endereço eletrônico da Sociedade Médica de Sergipe - http://www.somese.com.br/.

Vale comentar que o Governo Federal ainda não alcançou a verba orçamentária do primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995, que teve uma dotação de R$ 91,6 bilhões. Desde então, a verba orçamentária da área de saúde vem se mantendo na faixa de R$ 53 bilhões (em valores atualizados) e, este ano, terá uma verba de R$ 77 bilhões, sob o comando do médico Alexandre Padilha. O segundo maior orçamento da Esplanada dos Ministérios sob o comando da presdisenta Dilma Roussef é da Previdência Social, que ficou com R$ 291 bilhões, de acordo com o Contas Abertas.


Marcia Cruz